Ensaio Ducati Multistrada 950 S de 2019 – Desempenho e Eficiência Multiplicadas pelo Factor S
A nova Ducati Multistrada 950 não é apenas uma evolução estética da sua versão anterior mas sim um novo modelo para 2019 que foi melhorado numa série de componentes e aprimorado no seu desempenho e que acrescenta agora uma versão S que inclui a sofisticada electrónica da Ducati Multistrada 1260.
Comparativamente, os 113 CV da Multistrada 950 podem parecer escassos considerando os 158 CV da Multistrada 1260 mas na verdade, e pela experiência que a marca nos proporcionou em Valência, estes 113 CV do motor da 950S estão agora distribuídos de uma forma diferente, com um significativo binário desde baixa rotação a actuar desde as 3.000/3.500 rpm e que tornam a sua condução extremamente entusiasmante, sobretudo em percurso de montanha onde, à saída de cada curva, a 950 S mostrava ter “coração de leão” sem grande necessidade de passar caixa e com apenas o rodar do punho…. mas já lá vamos.
O dia começou com a chegada às instalações da Desmotron em Valência onde nos aguardavam cerca de 50 unidades da Multistrada 950 versão S, aquela que é novidade absoluta para este ano de 2019. Metade das unidades eram versões S de origem com jantes de liga e a outra metade tinha o Pack Touring montado, pack que inclui punhos aquecidos, malas laterais e descanso central, para além de um extra que do ponto de vista estético valoriza ainda mais a silhueta esbelta da Multistrada 950 que são as jantes de raios.
A organização desta apresentação internacional definiu um percurso de cerca de 320 Kms e dividiu os jornalistas presentes de Portugal e Espanha em dois grupos. Uns seguiriam na versão standard da Multistrada 950 S por um dos percursos com cerca de 160 Kms e o outro grupo seguiria nas versões com Pack Touring e jantes de raios pelo segundo percurso, paralelo ao primeiro, encontrando-nos num determinada ponto a meio da jornada para almoçar em grupo e trocar de moto. Tudo muito bem organizado e acompanhado por elementos da própria Ducati Itália.
O nosso grupo era constituído por jornalistas portugueses e espanhóis e o nosso guia era um jovem italiano que parecia querer colocar-nos à prova, sabendo de antemão que a Multistrada estava apta para qualquer tipo de desafio. Na primeira etapa tocou-nos a versão com Pack Touring e jantes de raios, e ainda bem pois com os 9º de temperatura à saída da Desmotron soube bem acionar de imediato os punhos aquecidos ( função muito fácil de selecionar através de um simples toque de botão no punho direito, que permite correr as 4 posições possíveis e identificáveis no painel TFT ). Os primeiros Kms são realizados em “Autovia” e depois entramos em estradas secundárias e percurso de serra. Digamos que dos 150 Kms previstos para a primeira etapa cerca de 120 Kms foram de serra, com bom alcatrão mas exigente, com curvas e contra-curvas a colocarem à prova o desempenho da Multistrada e dos pneus Pirelli Scorpion e claro também da nossa destreza e concentração já que o ritmo no pelotão foi sempre rápido e em crescendo.
As primeiras sensações foram de adaptação imediata e de controle total, um comportamento em curva absolutamente irrepreensível, com o sistema de ABS em curva e o sistema SkyHook a actuar nas suspensões semi-activas e a mostrarem uma enorme eficiência, sobretudo à entrada das curvas em travagem, e nas saídas rápidas das mesmas, onde o binário fantástico desta Multistrada e a sua progressividade nos passavam uma sensação de segurança e controle constantes.
No início, com o ritmo ainda tranquilo de auto-estrada, aproveitámos para “navegar” no sistema de controle e nas várias funcionalidades que o interface da Multistrada S nos permite selecionar. Tudo muito simples e intuitivo, de leitura fácil e de alteração rápida, mesmo em andamento. Gostámos também da proteção oferecida pelo écran dianteiro, que facilmente pode ser ajustado, embora de forma algo tosca mas perfeitamente funcional. A minha opção pessoal é a de o manter a meia altura pois gosto de ver a estrada a partir dos 2 ou 3 metros à minha frente sem ser através do écran ( manias que vêm do Enduro ).
A Multistrada 950 é uma moto cómoda, com pouca vibração ( quase nenhuma ) muito silenciosa, parados nos semáforos com o motor a trabalhar quase não se houve, no entanto o som do dois cilindros em L a partir das 4.000 rpm faz-se notar e marca com um ronco grave e cheio a entrega de potência que a partir desse mesmo regime, onde 80% do binário já está presente e mantém uma uniforme praticamente até atingir o pico perto das 8.000 rpm. Ou seja um motor que está sempre presente naqueles regimes onde mais se concentra a sua utilização e que conferem à Multistrada um enorme prazer de pilotagem, sobretudo em estradas de montanha, onde rodámos quase sempre entre 3ª e 4ª velocidade, algumas vezes em 2ª nos ganchos mais apertados, abrindo e fechando o punho do acelerador em cada curva, travando o menos possível e tirando partido do excelente comportamento das suspensões semi-activas, que nos permitiam curvar mais rápido do que seria normal sem perder a sensação de segurança e de controle constante.
Aliás o sistema electrónico SkyHook realiza uma gestão ótima do comportamento das suspensões que combinado com o ABS em curva, que regula a combinação da travagem à frente e atrás de forma a que a moto não afunde demasiado na dianteira, permitia-nos manter um ritmo muito acima do normal, graças a uma leitura constante que o IMU realiza das várias variáveis, inclusivamente do estado da própria estrada. Claro que poderemos personalizar totalmente o setting das várias funções numa infinidade de combinações possíveis ( cerca de 400 ) tentando encontrar aquela com que mais nos identificamos de acordo com o nosso estilo de condução, mas digamos que esse processo será compatível apenas com a “paciência “ e sensibilidade de alguns.
A nova electrónica montada na versão S da Multistrada 950, que provém como referimos da Multistrada 1260, confere uma enorme sofisticação ao desempenho da moto melhorando substancialmente o seu comportamento e as suas prestações a todos os níveis. O motor com mais binário a partir das 3.000 rpm faz com que seja possível rodar a rotações mais baixas refletindo-se essa realidade em menores consumos também. Os ajustes nos modos de condução garantem de forma automática uma adaptação imediata ao estilo de condução e às situações com que nos deparamos de circulação. Nos modos de condução Sport e Touring está sempre disponível a potência máxima do motor de 113 CV, embora no modo Touring esta potência tenha uma entrega mais suave e menos imediata. Nos modos Urban e Enduro a potência desce para os 75 CV sendo que no modo Urban mantém-se uma intervenção forte da electrónica, no controle de tração e no ABS, e no modo Enduro a electrónica é minimizada no sentido de a pilotagem ser o mais directa possível. Notem que mesmo em qualquer dos modos é sempre possível num momento determinado personalizar o mesmo ao vosso gosto.
À entrada das povoações e em cidade, a velocidades abaixo dos 40 Km/h, o motor pede 2ª s e 3ªs pois abaixo das 2.500rpm acusa algum “bater”. Na versão testada, a 950 S , que monta Quickshift, o passar de caixa é sempre realizado com uma enorme suavidade e precisão, tanto a subir como a reduzir, fazendo com que a embraiagem, apesar de hidráulica e mais leve, apenas se tenha que usar no pára-arranca em cidade. Nota muito positiva para a função de QuickShift da Ducati que na Multistrada 950 S tem o mesmo nível de uma Panigale ou de uma Multistrada 1260, dos melhores que temos testado.
À tarde, já na segunda etapa, mudámos para a versão normal da 950 S com jantes de liga e sem Pack Touring e de imediato sentimos o menor peso do conjunto ( cerca 15 Kg menos que derivavam do peso total do Pack Touring montado na versão anterior ) sobretudo no colocar mais rápido em curva e na agilidade que demonstrava no encadeamento de curvas, permitindo um ritmo mais rápido ajudado pelo facto de termos rodado já toda a manhã e estarmos totalmente adaptados à Multistrada.
É-nos de facto muito difícil apontar algum pormenor menos positivo nesta nova versão 2019 da Multistrada 950 e há que destacar também o comportamento irrepreensível do quadro multi-tubular em trelissa que confere uma rigidez e uma estabilidade máxima em qualquer situação, permitindo em conjunto com a actuação da electrónica uma velocidade em curva com enorme precisão e segurança e uma travagem assistida a garantir entrada em curva e trajectórias afinadas, tudo isto com um motor cheio de alma, sobretudo naqueles regimes onde mais se concentra a sua utilização. O ritmo foi sempre rápido sem ser exagerado com a sensação de que a Multistrada reservava sempre uma boa margem de segurança. A roda de 19” na dianteira não nos impediu de incutir uma condução quase desportiva e a maior altura ao solo permitia-nos testar cada vez mais os limites da inclinação até ao roçar da biqueira das botas no alcatrão.
Já no final do trajecto pudemos ainda testar o sistema de “Cruise Control” que funciona na perfeição e que será certamente útil em viagens mais longas onde se incluam percursos com muitos Kms de auto-estrada.
A título de conclusão referir que nos surpreendeu muito pela positiva o desempenho magnífico da nova Multistrada 950, no caso a versão S, moto que nos pareceu apta para tudo, muito ágil e versátil, com um motor sempre disponível numa faixa de regimes muito alargada e sobretudo desde os baixos e médios regimes, muito confortável já que terminámos os 320 Kms sem nenhum cansaço aparente e a permitir, graças à sua electrónica, uma condução entusiasmante com uma sensação de controle e segurança acrescidas e constantes.
A Ducati Multistrada 950 S confirma-se como sendo uma moto muito equilibrada, uma Sport Tourer com algum ADN Adventure, graças à sua roda dianteira de 19” e à inclusão de um modo Enduro na sua electrónica, e com um comportamento dinâmico que deixará muitas desportivas a olhar para o seu pneu traseiro, deixando-nos na dúvida se valerá a pena investir na 1260.
No briefing que nos fizeram na noite anterior ficámos a conhecer as principais características da nova Multistrada 950 que se resumiam no seguinte em ambas versões:
- Motor Testastretta de 937cc e 113Cv de potência
- Binário máximo de 96 Nm à 7.750rpm embora com uma entrega alta desde as 3.000 rpms
- Revisões para mudança de óleo apenas aos 15.000Kms e para ajuste do sistema Desmo apenas aos 30.000 Kms ( excelente fiabilidade )
- Travões com pinças Brembo radiais
- Carenagem e estética mais parecida com a versão 1260
- Novo escape de dimensão super slick ( estreita )
- Jantes de liga mais leves que as anteriores com jante de 19” na dianteira ( a opção de jantes de raios pesam mais 5 Kg )
- Monta o mesmo braço oscilante que a versão 1260
- Nova embraiagem hidraulica assistida de funcionamento mais leve
- Altura do assento contida nos 840mm embora existam opções mais baixas e mais altas.
- Novo IMU Bosch de 6 eixos
- 4 modos de condução possíveis: Sport, Touring, Urban e Enduro
- Inclui Bosch Cvornering ABS e DTC Control de Tração Ducati ambos ajustáveis .
Já a versão S que ensaiámos inclui tudo o anteriormente referido e mais:
- Electrónica da versão 1260 que inclui DSS, DQS, DCL e também Cruise Control.
- Suspensões electrónicas semi-activas com sistema DSS – Ducati SkyHook Control.
- Sistema de passagem de mudanças com Quickshift DQS nos dois sentidos
- Faróis full LED com sistema de luzes que se acendem em curva ( Cornering Lights )
- Painel de informação TFT de 5” ( LCD na versão Multisrtrada 950 standard )
- Sistema de gestão de menus idêntico ao das versões topo de gama da marca ( Multistrada 1260 e Panigale V4 )
- Botões de comando retro-iluminados
- Opções de cor em cinza brilhante e encarnado.
A Ducati tem também disponíveis vários Pack’s como opção que para além do já referido Pack Touring existem também:
- Pack Sport: com escape de rendimento da Termignoni e piscas de LED
- Pack Urban com Top Case, saco de depósito e tomada USB.
- Pack Enduro com faróis LED suplementares, proteções laterais, proteção de radiador e de carter e poisa pés de maior dimensão em aço
Características Técnicas
Motor Bicilíndrico em L Testastretta, distribuição desmodrómica, 4 válvulas por cilindro, refrigeração líquida
Cilindrada 937 cc
Taxa de Compressão 12.6:1
Diâmetro x Curso 94 x 67.5 mm
Potência 113 cv (83 kW) / 9.000 rpm
Binário 96,2 Nm / 7.750 rpm
Alimentação Injeção eletrónica Bosch, corpos cilíndricos de 53 mm com Ride by Wire
Escape Sistema em aço inox com catalizador e duas sondas lambda
Caixa 6 velocidades
Transmissão primária Engrenagem de dentes retos, relação 1.84:1
Transmissão final Por corrente; pinhão de ataque 15 dentes; cremalheira 43 dentes
Embraiagem Multidisco em óleo, com acionamento hidráulico, servo-assistida e deslizante
Quadro Treliça em tubos de aço
Suspensão dianteira Forquilha invertida com bainhas de 48 mm, totalmente regulável, ajuste eletrónico da compressão e extensão com o Ducati Skyhook Suspension (DSS) EVO
Jante dianteira Em liga leve, 3.00” x 19” (ou raios)
Pneu dianteiro 120/70 R19 Pirelli Scorpion Trail II
Suspensão traseira Amortecedor totalmente regulável; ajuste remoto da pré-carga; ajuste eletrónico da compressão e extensão com o Ducati Skyhook Suspension (DSS) EVO, braço oscilante em alumínio
Jante traseira Em liga leve, 4.50 x 17” (ou raios)
Pneu traseiro 170/60 R17 Pirelli Scorpion Trail II
Curso das suspensões (fr/tr) 170 mm / 170 mm
Travão dianteiro 2 discos semiflutuantes de 320 mm, pinças Brembo monobloco de 4 pistões e fixação radial, Cornering ABS
Travão traseiro Disco de 265 mm, pinça Brembo de 2 pistões, Cornering ABS
Instrumentação TFT a cores de 5”
Peso a seco 207 kg
Peso em ordem de marcha 230 kg
Altura do assento 840 mm
Distância entre eixos 1594 mm
Ângulo da coluna de direção 25º
Trail 106 mm
Capacidade do depósito de combustível 20 litros
Electrónica de segurança Cornering ABS, DTC, VHC, DCL, Riding Modes
Equipamento de série Ducati Skyhook Suspension Evo (DSS), Ducati Quick Shift up/down (DQS), Cruise Control, Hands-Free, comutadores retroiluminados, ecrã TFT a cores de 5”, ótica Full LED, indicadores de direção auto-off
Garantia (meses) 24 meses, quilometragem ilimitada
Intervalos de serviço (km/meses) 15.000 km / 12 meses
Regulação das válvulas 30.000 km
PVP’s
PVP Ducati Multistrada 950 13.995 eur
PVP Ducati Multistrada 950 S 15.895 eur
PVP Ducati Multistrada 950 S pack Touring 17.095 eur
Concorrência
BMW F 850 GS 853 cc / 94 CV / 229 Kg / 12.500 eur
Honda Africa Twin CRF 1000 998 cc/ 95 CV / 232 Kg / 13.650 eur
Kawasaki Versys 1000 1.043 cc / 120 CV / 250 Kg / 14.195 eur
KTM Adventure 1090 1050 cc / 125 CV / 205 Kg / 15.350 eur
MV Agusta Turismo Veloce 798 cc / 110 CV / 192 Kg / 16.990 eur
Triumph Tiger 800 XR 800 cc / 95 CV / 199 Kg / 13.450 eur
Galeria Ducati Multistrada 950 S
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