Hubert Auriol: o homem que África tornou imortal
Deixou-nos este ano aos 68 anos e foi um dos monstros sagrados do rali Dakar. Uma corrida para a qual deu tudo, tanto como piloto de motos e automóveis, como no papel de organizador.
Conhecido como “O Africano” devido às suas raízes, Hubert Auriol foi um dos grandes protagonistas do Dakar, um dos pilotos que encheram com posters quartos e garagens em todo o mundo. Ganhou no rali e foi o primeiro a fazê-lo tanto numa moto como num carro. Mas foi uma derrota que o tornou imortal. Foi o Dakar de 1987, ou melhor, o Paris-Dakar de 1987, que foi a sua rampa de lançamento.
Auriol era o líder da edição de 1987 do Dakar perto do final da corrida, a primeira sem o lendário Thierry Sabine ao leme das operações. O francês de raízes egípcias estava na frente com a sua imponente Cagiva Elefant 900 e tudo estava preparado para no final se celebrar o seu triunfo e da Cagiva que se confrontava com as imbatíveis motos japonesas e alemãs.
Acontece que durante a penúltima etapa, a última que certamente confirmaria o vencedor, Auriol tem um acidente, uma queda trivial mas em que o francês parte os dois tornozelos. A sua chegada à linha de chegada, em lágrimas e dor, é uma das primeiras imagens filmadas que circulam no Paris-Dakar. Esse vídeo, é um dos primeiros vídeos a ficar viral, ainda hoje.
A derrota do herói foi como um murro no estômago dos seus fãs. A sua queda, o seu fracasso não foram ‘filtrados’ pela narração de ninguém, foram documentados apenas. A tarefa após duros dias de competição não ficou concluída… o sonho de Auriol, a história que estava prova a reescrever-se com um conto de fadas, desvaneceu-se por causa de uma raiz. Mas, prova que nem sempre só as vitórias criam heróis… ainda hoje muitos recordam Hubert Auriol e a bela Cagiva alimentada por um motor Ducati, embora muito menos do que os que se lembram do vencedor dessa edição, Cyril Neveu e a Honda.
Castiglioni compreendeu isto, e foi ao hospital para prestar homenagem ao seu piloto. Nem sempre é preciso ganhar para se ser grande. Por vezes só é preciso tentar, mas…é preciso outra coisa. É preciso ser capaz de chegar às pessoas, para tornar um fracasso imortal.
Hubert Auriol era um ‘gentleman’ e era isto que sabia fazer melhor que ninguém, ser uma pessoa afável, sorridente e prestável. Não é difícil perceber isto, um campeão apático e distante é algo que os fás não querem… lembrem-se de Ayrton Senna e Michael Schumaker na Fórmula 1!
De Auriol muitos que estiveram na caravana do Dakar nesse ano guardam gratas recordações: jornalistas, fotógrafos, comentadores, participantes. Generosidade, bondade e aquele sorriso magnético que muitas vezes caracteriza os transalpinos tornaram Auriol grande, antes e depois dos seus resultados, que ainda são inalcançáveis.
Até sempre Hubert!
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