Motocross, Francisco Fernandes: A história do ”Xico Patife”
Tem apenas 10 anos de idade, mas já sonha deixar o seu nome bem impresso no motocross português. Esta é a história de Francisco Fernandes, ou Xico Patife, o menino que acelera local e sonha a nível mundial.
O longo caminho para um português
Ver um nome português no MXGP não é impossível. Não precisamos recuar muito atrás no tempo para ver o nome de Rui Gonçalves (que competiu durante 17 épocas consecutivas no Campeonato do Mundo de Motocross, sendo vice-campeão de MX2 em 2009) ou de Joaquim Rodrigues Jr. (que para além do Mundial de Motocross, deu cartas nos Estados Unidos da América competindo no AMA Supercross e no AMA Motocross).
No entanto, voltar a ver um piloto português, de forma recorrente no Mundial de Motocross não se afigura fácil. Não por falta de talento, mas sim por questões financeiras. A dificuldade em arranjar patrocínios, os milhares de euros necessários para viagens, estadias, refeições, inscrições em provas, seguros e cuidados com a moto, aliados à falta de peso do nosso país no panorama do motocross, fazem com que, para já, a luz ao fundo do túnel seja difícil de se ver, mas não impossível. Muito menos para um Fernandes!
Quem és, pequeno Patife? E porque falam tanto de ti?
O calendário marcava o décimo segundo dia do primeiro mês de 2013 quando, chegava ao mundo, Francisco Silvestre Fernandes, agora também conhecido como Xico Patife.
Passou-se então uma década desde o nascimento de um “menino bom e com um coração gigante”, de olhos azuis celestiais e cara de anjo. Um menino carismático, magnético, elétrico e que prende a atenção de qualquer um que se cruze com ele. Um menino que gosta de ouvir Nirvana, Idles, Mastodon e Cassete Pirata. Um menino que não gosta de perder nem a feijões. Um menino atento aos demais e empático. Um menino que apesar da sua tenra idade é das companhias favoritas dos adultos. Um menino que gosta de ler e perde a cabeça por lápis de cor, marcadores e tudo o que serve para desenhar. Um menino de sua mãe. Um menino que brinca e gosta de brincar, que é envergonhado e difícil de conquistar. Um menino que, apesar de se comportar como um adulto dentro de pista e de ter mais de metade da sua curta vida dedicada às motos, é ainda isso mesmo: um menino.
Francisco Fernandes, nascido no seio de uma família com história no mundo do motociclismo (o pai, Cristiano Fernandes, deu cartas em Supermoto onde se sagrou decacampeão nacional da modalidade), parecia ter o destino traçado logo à nascença, no entanto foi sempre o pequeno Patife que demonstrou interesse pelas duas rodas, sem que alguém o obrigasse a tal.
Começou cedo o seu fascínio por bicicletas e motos. Com cerca de ano e meio já rodopiava pelas ruas com a sua “bicla” sem pedais (quem diria que 8 anos depois se tornaria campeão nacional de BMX!), aos dois anos meteu-se em cima da sua primeira moto (com rodinhas), quando tudo e todos se aperceberam que ambos se tratavam por “tu”. A primeira competição foi no Troféu Yamaha e chegou quando Francisco, piloto de Torres Vedras, tinha acabado de soprar as quatro velas. A partir desse momento o pequeno Patife teve a certeza de que “era aquilo que queria fazer! Adorei a adrenalina, os saltos que podia dar e a velocidade”. Passaram-se seis anos, e o Xico, vai crescendo, quer a nível pessoal como profissional, na modalidade que tanto gosta: o motocross.
Filho de piloto sabe acelerar
Francisco tem no pai o seu eterno aliado. Aliás, Cristiano é pai, treinador, muitas vezes mecânico e motorista do Xico Patife. O decacampeão de Supercross confessa que não é fácil, muitas vezes, separar as águas, mas ultimamente tem feito um esforço para colocar “cada coisa no seu sítio”.
“Dentro da pista, tenho o Xico Patife, o meu atleta e como tal exijo que dê o seu melhor. Puxo por ele, e aponto-lhe as falhas quando assim é necessário, não esquecendo de elogiar o seu trabalho e tudo o que dá em prova.
Assim que corta a meta, o Xico Patife ‘desaparece’ e o treinador Cristiano também.
Sou o pai dele, e ele o meu filho.
Verdade seja dita, minha vida é acompanhar o Francisco. Entre o meu trabalho e a dedicação a este projeto, há muito pouco tempo livre. São fins de semana na estrada, seja em treinos ou em provas, umas vezes perto de casa, outras no país vizinho. Treinamos muito, viajamos muito, suportamos o frio, o calor e a chuva nas pistas, é muito pesado, mas é também muito bom para a nossa relação pai e filho. Passamos muito tempo juntos e divertimo-nos muito quando assim é”, refere Cristiano Fernandes.
Um palmarés em ascensão
No ano em que iria iniciar a sua caminhada “mais a sério” pelos campeonatos nacional e regional de motocross, a pandemia que todos vivemos veio atrasar também a estreia do #113 (número que está relacionado com o seu nascimento, sendo o 1 relativo a Janeiro e o 13 ao ano de 2013), na competição ao mais alto nível. No entanto, não impediu que, com as corridas possíveis, o pequeno talento de Torres Vedras se sagrasse Campeão de 50cc no Campeonato de Extremadura em Espanha, em 2020.
Em 2021, com a pandemia ainda instalada, a época do pequeno Patife foi de adaptação, quer às competições quer à moto (passava agora a competir num escalão acima: as 65cc). A partir daí, o palmarés de Francisco Fernandes não parou de ganhar forma.
Em 2022, assistiu-se a um ano quase perfeito para o Patife: sagrou-se Campeão Regional de Motocross, na classe 65cc; Vice-Campeão Nacional de Supercross no seu ano de estreia na modalidade; 3º classificado do Campeonato Nacional de Motocross (entre 20 pilotos); Vencedor do Troféu Yamaha, na classe YZ65; 12º classificado (o melhor português da sua classe), em 24 pilotos, na SuperFinale YZ bLU cRU FIM Europe Cup; representou Portugal no conceituado Coupe de L’Avenir, na Bélgica; foi eleito Desportista do Ano pela rádio ONFM e sagrou-se Campeão Nacional de BMX Freestyle.
Em 2023, presente época, em que competirá nos campeonatos Nacional e Regional de Motocross, Nacional de Supercross e algumas provas do Campeonato Espanhol e Europeu, Francisco Fernandes continua com o seu #113, com a sua YZ65, a competir pela Motos VR Yamaha, com uma equipa privada de mecânicos e de comunicação e marketing e com a ajuda de empresas de renome no panorama nacional.
E daqui a 5 anos, onde estarás, Patife?
Quanto ao futuro uma coisa é certa: “ser tão bom ou melhor do que o pai”, o resto vem por acréscimo.
Não esconde a vontade de ser piloto mundial, de competir ao mais alto nível e nos campeonatos mais exigentes do mundo, mas à medida que vai crescendo vai também adquirindo mais noção do quão difícil é, para um piloto português, a presença nesses grandes cenários internacionais.
Para já, conta com o apoio das empresas que estão consigo desde sempre, com a ajuda financeira dos familiares e amigos, sem nunca desistir de encontrar um investimento que seja verdadeiramente capaz de o ajudar a suportar uma época inteira, permitindo-lhe marcar presença em todas as provas do campeonato espanhol e europeu (locais onde poderá chamar a atenção das grandes equipas mundiais).
E se a geografia não deveria importar quando o talento fala mais alto, há neste país uma fraca aposta por parte das grandes empresas, no que toca às ajudas financeiras, que poderiam levar talentos natos como o Patife a chegar mais longe (através de patrocínio ou mecenato) mas que os “obrigam” a continuar sem perspetivas de um futuro mais exigente, brilhante e financeiramente mais apetecível.
Por cá, o Patife vai continuando o seu bom trabalho, dedicado e empenhado em mostrar o seu melhor. Divertindo-se em cada salto que dá e sentindo a adrenalina em cada holeshot ganho.
Por agora, o Patife vai escrevendo a sua história, aos poucos, com a certeza de que o sonho comanda a vida e com o desejo que daqui a uns anos, por esses circuitos mundiais fora, se avistarão bandeiras portuguesas com um nome inscrito e fãs que gritarão a bons pulmões (ou não fosse Nirvana a sua banda de eleição): “Patife, here we are now, entertain us”.
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(Texto: Rita Suissas / Communication & Marketing Xico Patife #113)
(Fotos: Pedro Messias/Duzentos)
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