Mário Patrão, Dakar: “Quando há um 1.º lugar temos de ficar orgulhosos”
Mário Patrão falou em exclusivo ao Motosport sobre a sua participação no Dakar 2024, onde venceu a classe Veteranos na sua estreia com uma Honda.
Quantas vezes havias testado a Honda antes do Dakar?
“A Honda não foi testada, porque tudo aconteceu muito em cima do Dakar, pelo que não tivemos tempo suficiente para testar a moto. Quando chegámos à Arábia Saudita, fizemos apenas um ‘Shakedown’ com cerca de 50 km e começámos o Dakar. Claro que se fosse com mais tempo tínhamos testado e alterado algumas coisas, mas não foi possível devido ao ‘timing’. Felizmente correu tudo bem, que era o mais importante.”
A Honda superou as tuas expectativas?Atendendo a que o modelo vai para comercialização, que pontos fortes destacas na moto para um piloto amador?
“A Honda superou as minhas expetativas. Estava um pouco receoso. Sabia que não era uma moto de fábrica, uma moto oficial, mas geralmente a moto foi muito bem conseguida. Tinham-me dito que a nível de motorização e de potência seria muito idêntica às KTM e não se enganaram. A verdade é que estava bastante boa e muito fiável. Há somente alguns pontos a corrigir. A Honda é uma marca super conceituada. Toda a gente sabe que quando fazem, fazem bem, por isso, se a moto vier para venda ao público, penso que podemos ter uma grande concorrente da KTM por estar muito bem conseguida.”
Dia após dia, vários pilotos foram dizendo que este Dakar estava a ser muito duro. Foi a edição mais dura em que participaste até hoje? O que a tornou tão dura?
“Todos nós sabemos que o Dakar é sempre muito duro. São muitos dias, muitos quilómetros, ligações muito extensas. Há uma série de fatores que o tornam demasiado exigente. Este ano as etapas do Dakar, principalmente na primeira semana, tinham 380 quilómetros sensivelmente, exigiam alguma técnica, ou seja, não eram super rápidas e por vezes cruzavam zonas de muita pedra onde as velocidades médias não eram altas, o que obriga a estar muitas horas em cima da mota. O desgaste é maior, os quilómetros acabam por não passar tão rápido.
Pensávamos que a segunda semana iria ser um pouco mais tranquila, mas não. Continuámos com especiais com muitos quilómetros e a exigir alguma técnica. Tivemos dois ou três dias de dunas que acabaram por ser onde andámos relativamente mais ‘relaxados’, embora a etapa 48H, a grande novidade neste Dakar, fosse um verdadeiro teste para pilotos e máquinas. Tínhamos de fazer os 630 km no menor tempo possível.”
Em algumas etapas mencionaste que a navegação estava a ser muito desafiante. O que a tornou desafiante e mais difícil que noutros anos?
“A navegação foi muito desafiante porque tínhamos muitos cordões de montanhas. Era necessário entrar e sair no sítio certo. Se entrássemos uns quilómetros mais ao lado, haveria a dada altura do percurso um momento em que não daria para passar a montanha para o outro lado. Por vezes era necessário voltar para trás para entrar no sítio correto. Essas situações foram bastante difíceis de gerir.
O roadbook digital também foi uma outra dificuldade. A visibilidade para o roadbook não era a melhor. Quando saímos de manhã cedo, na ligação, a claridade reflete-se nos olhos e não conseguimos uma boa visibilidade nem para o roadbook nem para a própria estrada. Também quando o sol incide por cima do roadbook acaba por nos retirar a visibilidade. Muitas vezes temos de fazer sombra com o capacete de modo a incidir sobre o ecrã para conseguir navegar e identificar as diversas notas e situações. Foi o que nos propuseram e nos obrigaram a ter, mas que acabou por dificultar um pouco mais a prova.”
Qual a tua opinião sobre a etapa maratona de 48 horas?
“A etapa 48H foi realmente uma grande novidade. O conceito está bom, gostei. Os pilotos tiveram 630 km para percorrer no menor tempo possível, nas dunas. Existem horários para parar e sair do percurso. Caso contrário só iriamos parar quando terminássemos de percorrer os quilómetros indicados. Eu fiz 460 km num dia e no outro 180/190 km, sensivelmente. Nesses dois dias é preciso que haja uma gestão muito boa do piloto, a nível físico, e até da própria máquina. No meu caso, penso que conseguir fazer bem essa gestão. Acabei as 48h sem problemas. Dormimos nos acampamentos montados para o efeito e teríamos de ficar no mais próximo do ponto em que nos encontrávamos à hora em que o primeiro dia terminava. A alimentação era ‘estilo de combate’. Para quem anda a competir não era o ideal, mas era igual para todos. Senti falta de um bom pequeno-almoço. Acho que a organização esta de parabéns, foi uma boa novidade esta que introduziram.”
Qual o “sabor” de trazer uma vitória na classe Veteranos para Portugal após tantas participações?
“É muito importante vencer. É importante para mim, para os meus patrocinadores, para todos os que me apoiam. Este ano tínhamos esse objetivo e quando nos propuseram a Honda sentimos que iriamos ter alguma dificuldade numa fase inicial, mas as coisas acabaram por correr bem e conseguimos trazer o 1º lugar para Portugal o que é muito bom. Quando há um 1º lugar temos de ficar orgulhosos. Eu estou orgulhoso, os patrocinadores estão orgulhosos do trabalho que fizemos. Foram eles que me ajudaram e incentivaram. Foi uma parceria bastante boa. Estamos muito felizes.”
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(Fotos: A2 Comunicação)
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