Quem vai suceder a Marc Coma e a Cyril Despres?
É já no próximo domingo que vai para a estrada mais uma edição do Dakar, a oitava que irá decorrer na América do Sul.
A grande novidade para 2016 é a ausência de Cyril Despres e Marc Coma, nomes que dominaram o Dakar durante a última década. É mesmo preciso recuar à edição africana de 2004 para encontrar a última vitória de um piloto que não se chame Despres ou Coma: foi o triunfo de Nani Roma, também com a KTM. Sempre com a marca austríaca, o francês e o espanhol combinavam na perfeição a rapidez, capacidade de leitura do terreno e navegação exímia, condimentos cruciais para se ganhar uma prova tão longa e difícil como o Dakar.
Só que Despres decidiu no final de 2014 que estava na hora de mudar para os automóveis e aproveitou a oportunidade da Peugeot, enquanto Coma parecia também estar destinado a mudar-se para as quatro rodas até ser convidado pela ASO para ser o novo diretor desportivo da maior prova de TT do mundo. Segundo o catalão, um convite irrecusável…
É neste contexto que a prova das motos em 2016 se afigura como uma das mais imprevisíveis das últimas décadas no Dakar. O poderio e experiência da KTM voltam a tornar a marca austríaca no alvo a abater nas duas rodas, embora a saída de Coma tenha deixado a equipa que vence o Dakar consecutivamente desde 2001 (!) sem um verdadeiro ‘ponta de lança’. O britânico Sam Sunderland era o candidato natural à ‘sucessão’, mas o piloto radicado no Dubai fraturou uma perna no Rali de Merzouga em outubro e não conseguiu recuperar a tempo.
Assim, a ofensiva da KTM e Husqvarna – histórica marca sueca propriedade do grupo austríaco e que corre com a mesma moto – terá uma interessante mistura entre pilotos jovens vindos do motocross e enduro e veteranos que tentam apostar na consistência e capacidade de navegação.
No primeiro grupo estão o australiano Toby Price, a grande surpresa da edição de 2015 (3º lugar), o atual campeão do Mundo de TT Matthias Walkner, que também é rápido mas ainda está a aprender a navegar, e o francês ‘Pela’ Renet, campeão do mundo de motocross (MX3) e enduro e que se estreia no Dakar pela mão da Husqvarna. No grupo dos pilotos que apostam na consistência, estão o português Ruben Faria, o chileno Pablo Quintanilla (4º em 2015), os eslovacos Ivan Jakes (4º em 2013) e Stefan Svitko (5º), e os franceses David Casteau e Olivier Pain.
O tudo ou nada da Honda?
Um pouco como a Peugeot nos automóveis, a Honda fez um investimento milionário para tentar acabar com o domínio da marca reinante no Dakar (no caso da Peugeot a MINI, no caso da Honda a KTM). Só que os resultados da marca japonesa ainda não corresponderam totalmente às expectativas dos seus responsáveis, apesar do português Paulo Gonçalves já ter dado à Honda um título mundial de todo-o-terreno em 2014 e o segundo lugar na última edição do Dakar. ‘Speedy’ Gonçalves volta a ser um forte candidato ao pódio mas Joan Barreda Bort é visto como o grande favorito à vitória nesta edição, apesar do espanhol ter como melhor resultado um 7º lugar (2014) em cinco participações. Para auxiliar Gonçalves e Barreda – curiosamente uma dupla que se dá muito bem e que transitou junta para a Honda com a estrutura alemã da Speedbrain -, a HRC terá Michael Metge, Paolo Ceci e a jovem estrela americana Ricky Brabec (24 anos), que se estreia no Dakar depois de ter ganho as principais bajas nos Estados Unidos.
A grande questão que se coloca é se a Honda terá sobretudo fiabilidade para realmente importunar a KTM, já que é neste capítulo que a marca austríaca tem feito a diferença. Basta ver que Barreda Bort e Gonçalves venceram um total de nove etapas entre si nas últimas duas edições e que o catalão estava na liderança da prova em 2015, antes da famosa etapa 7, quando grande parte do pelotão teve problemas mecânicos na dantesca travessia do mar salgado da Bolívia, o Salar de Uyuni. Além disso, a nova KTM também parece ser uma moto (ainda) mais competitiva já que no Campeonato do Mundo FIM de Ralis TT (Cross-Country), Matthias Walkner e Sam Sunderland foram os dois primeiros classificados e a KTM venceu quatro das cinco provas principais. Assim, este pode ser considerado um ano de ‘tudo ou nada’ para a HRC, o que coloca pressão adicional sobre Barreda Bort e Gonçalves.
A incógnita da Yamaha
Do lado da Yamaha, há grande expectativa para ver o que vale a nova moto desenvolvida por Hélder Rodrigues. O piloto português mudou-se da Honda para o outro gigante japonês das duas rodas mas nesta segunda incursão pela Yamaha tem total apoio de fábrica, ao contrário da época em que levou uma moto construída em Portugal ao pódio do Dakar. Desta vez, Hélder Rodrigues foi o piloto responsável pelo desenvolvimento da nova WR 450F, uma moto que venceu o Rali de Merzouga com Alessandro Botturi mas cujo verdadeiro potencial só será analisado em pleno Dakar.
Hélder Rodrigues sempre foi visto como um dos pilotos mais completos do pelotão mas a passagem pela Honda foi algo frustrante para o piloto de Almargem do Bispo, afetado por recorrentes problemas mecânicos, apesar de ter vencido duas etapas em 2015. A Yamaha espera que o piloto português consiga repetir os pódios de 2011 e 2012 e para isso colocou outro piloto experiente ao seu lado, o italiano Botturi, com o veterano holandês Frans Verhoeven a servir de ‘aguadeiro’ de luxo ou garantia para o caso de algo correr mal a um dos dois principais pilotos.
Outra marca que gera alguma expectativa é a Sherco, que contratou Joan Pedrero para acompanhar o experiente Alain Duclos, piloto francês nascido no Mali e que já está na marca gaulesa desde 2013. Pedrero e Duclos são candidatos ao top 10 e, caso a Sherco seja suficientemente rápida e fiável, poderão vencer etapas e até subir a posições inesperadas na geral.
Depois há uma série de outsiders de luxo com reais ambições a um lugar nos dez primeiros. São os casos de Jordi Viladoms (2º classificado 2014 e que finalmente abandona o papel de ‘aguadeiro’ de Marc Coma, mantendo-se na Red Bull KTM com a motivação em alta), de Gerard Farres Guel, que venceu o último Rali Transanatolia na frente de Hélder Rodrigues, a espanhola Laia Sanz, que foi 9ª em 2015 e que se mantém com uma KTM oficial, ou o ex-campeão do Mundo de enduro Antoine Meo, em estreia no Dakar com outra Red Bull KTM. Como se pode ver, nunca nos últimos anos a prova das motos reuniu tantas incógnicas e candidatos aos primeiros lugares. Mas até os favoritos nunca poderão esquecer que o Dakar não se ganha antes da chegada a Rosário no dia 16…
Ricardo S. Araújo
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