Opinião: Uma geração de ouro!
A vitória de Miguel Oliveira no Grande Prémio de Portugal de MotoGP reforçou a ideia que tenho há muito tempo: muito sortuda é a nossa geração por ver ser reescrita a história do motociclismo português!
Sim, é verdade. À boa maneira portuguesa, preocupamo-nos mais em dizer o que está mal na modalidade em Portugal do que a perceber que a história está a acontecer à nossa frente… e não sabemos quando se irá repetir!
Cresci a ver os pilotos portugueses terem dificuldade em apurar-se para uma corrida de um campeonato do mundo de Motocross… mas também vi o Luís Serra a marcar os primeiros pontos de um luso no Mundial de MX… e o Rui Gonçalves a vencer quatro Grandes Prémios em 2009 e a lutar pelo título de MX2 até à última ronda!
Cresci a ver lendas como o Stephane Peterhansel no Dakar… mas também vi o António Lopes a abrir o caminho dos portugueses em 1991, o Pedro Amado a chegar ao fim da prova em 1992 e o Paulo Marques a vencer a sua primeira etapa em 1997! Em 2002 foi a vez do Bernardo Villar!
Cresci a ver os italianos, os franceses e os finlandeses a dominarem o campeonato do mundo de Enduro… mas também pude ver o Hélder Rodrigues na mítica equipa KTM Farioli, o Paulo Gonçalves na equipa oficial da Gas Gas, o Luís Correia na Beta de fábrica e, mais recentemente, o Diogo Ventura na Gas Gas e na Redmoto!
Cresci a procurar no meio da tabela os nomes dos pilotos portugueses em provas internacionais… mas também assisti em 2020 ao Gonçalo Reis a terminar invicto na Taça do Mundo de Enduro Open 2T, vencendo a competição na frente do Gonçalo Sobrosa… também em 2020 assisti à conquista do segundo título de campeão europeu de Bajas por parte do Tiago Santos… e, ainda em 2020, o Micael Simão foi vice-campeão do mundo absoluto de Bajas, campeonato em que o Pedro Bianchi Prata triunfou na classe Veteranos!
Cresci a ver o Supercross norte-americano na televisão, em cassetes VHS que apareciam meses depois das corridas terem tido lugar… mas também tive a oportunidade de ver o Joaquim Rodrigues a subir ao pódio de uma prova do AMA Supercross em Pontiac em 2005!
Cresci a ver os pilotos estrangeiros chegarem a provas em Portugal e dominarem os acontecimentos, não dando hipótese aos portugueses… mas também vi o Joaquim Rodrigues a ser campeão de Supercross na Alemanha em 2001, o Paulo Alberto a ganhar seis títulos de MX e Arenacross no Brasil entre 2013 e 2020 e o Hugo Basaúla e liderar o campeonato de Espanha de Supercross em 2018!
Cresci a vibrar com as reportagens diárias do Dakar na televisão, admirado pela valentia daqueles pilotos que conduziam e navegavam a altas velocidades no deserto… mas também vi 3 portugueses no Top 10 numa edição da mais importante prova de Todo-o-Terreno em todo o mundo: Hélder Rodrigues, Rúben Faria e Paulo Gonçalves!
Cresci a ver a seleção portuguesa de Enduro a ter dificuldades em entrar no Top 10 nos ISDE… mas também vi Portugal a terminar duas vezes na 4.ª posição na mais antiga prova por seleções do mundo!
Cresci a ver grandes lendas dos Rally Raids como Gilles Lalay, Richard Sainct, Fabrizio Meoni, Edi Orioli e Jordi Arcarons… mas também tive a felicidade de ver Hélder Rodrigues e Paulo Gonçalves a sagrarem-se campeões do mundo de Rallies Cross Country!!!
Onde quero chegar com esta conversa? Cresci a ver o português mentalizar-se que era menos capaz que o estrangeiro… que não tinha o mesmo material… que não tinha as mesmas pistas para treinar… mas HOJE podemos dizer com ORGULHO que talento não falta no nosso país e que vale a pena fazer sacrifícios como os que fizeram todos os nomes mencionados neste texto!
A vitória do Miguel Oliveira não foi no Offroad, é certo… mas, mais uma vez, só provou que há uma grande diferença entre o piloto português e o piloto estrangeiro… custa tanto a um português chegar ao topo de uma modalidade do motociclismo que, quando a OPORTUNIDADE surge, o português NUNCA A DESPERDIÇA!
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