Paulo Gonçalves faria hoje 42 anos

By on 5 Fevereiro, 2021

Paulo Gonçalves era uma força da natureza. Determinação e resiliência são apenas duas palavras que resumem o caráter do “Speedy” ao longo de toda a sua carreira.

Quando Paulo Gonçalves apareceu no campeonato nacional de Motocross era um relativo desconhecido. Com uma Suzuki do concessionário MGB, não deixou que a sua baixa estatura o impedisse de se sagrar campeão nacional de Iniciados em 1993.

Imediatamente depois disso, ascendeu às classes seniores e começou a dar nas vistas. Em cima da moto, parecia quase não chegar aos pousa-pés mas a verdade é que “compensava” esse facto com uma coragem fora do normal.

Imediatamente depois disso, ascendeu às classes seniores e começou a dar nas vistas. Em cima da moto, parecia quase não chegar aos pousa-pés mas a verdade é que “compensava” esse facto com uma coragem fora do normal.

Bastaram três anos para que alguém reparasse no “baixinho” natural de Gemeses. A Motogomes – a mais importante equipa do Motocross português nos anos 90 – contratou-o em 1997 e permitiu-lhe que se tornasse piloto profissional de motos – nesta altura, passa a ser o “Speedy” Gonçalves.

Lembro-me de Harry Everts me falar em 1997 de Paulo Gonçalves. A Motogomes proporcionou-lhe um estágio com o belga na pré-época e a vontade de PG em mostrar o que valia era tanta que Everts teve de lhe dizer várias vezes para ele levar os treinos com mais calma.

Esta “falta de paciência” do minhoto marcaria os primeiros tempos da sua carreira. “Falta de paciência” convertida em vontade insaciável de vencer… Simplesmente vencer TODAS as provas em que participava!

Destronou Luís Serra como o rei do Motocross em Portugal e, entre 1997 e 2002, dominou o MX e SX no nosso país. Nesse período, sagrou-se também vice-campeão da Europa de 250cc e foi o primeiro português a competir numa ronda do AMA Motocross em Red Bud em 2002.

Em 2003 mudou-se para o Enduro com a equipa de fábrica da Gas Gas mas em 2005 foi Paulo Marques – o primeiro luso a vencer uma etapa no Dakar – que lhe deu a oportunidade de se voltar a dedicar aos campeonatos nacionais.

Mas a vontade de regressar ao Motocross era muita e quem o ajudou foi o seu sogro, Joaquim Rodrigues. O desafio era voltar à classe MX2 e tentar ser campeão em 2006 pela equipa Repsol Honda Moto Garrano. Gonçalves não fez a coisa por pouco: venceu TODAS as 9 provas do campeonato!

Foi também em 2006 que se estreou no Dakar. Falava-se na altura que vendeu o seu Audi TT – um carro que adorava – para ajudar a financiar a sua primeira participação no mais prestigiado Rally Raid do mundo. Tal era a determinação…

Terminou o seu primeiro Dakar na 23.ª posição e a aventura incluiu, entre outros, episódios como a queda numa vala em que o guiador foi “arrancado” do triângulo superior da suspensão. À sua boa maneira, Gonçalves improvisou e chegou ao fim dessa etapa com o guiador preso ao triângulo com… abraçadeiras de plástico!!!

A partir daqui, o universo encarregou-se de recompensar o “Speedy” de todo o esforço feito ao longo da sua carreira. A Speedbrain foi a primeira estrutura estrangeira a dar-lhe uma oportunidade nos Rally Raids para, de seguida, chegar àquela que é a equipa “de sonho” para qualquer piloto profissional de motos: a HRC Honda!

De vermelho, conquistou o título de campeão mundial de Rallies Cross Country em 2013 e registou o seu melhor resultado de sempre no Dakar: o 2.º lugar em 2015.

Era dos poucos pilotos “no activo” a ter participado no Dakar em África, na América do Sul e agora na Arábia Saudita. E que orgulho era ver um português com estatuto de “Legend” na mais importante prova de todo-o-terreno do mundo!

Mudou para a Hero em 2019 e enfrentou o Dakar 2020 com a mesma garra de sempre. Na terceira etapa, voltou a ter um acto heróico… mais um! Vítima de um motor partido, PG esperou seis horas pelo camião de assistência e trocou o motor em plena etapa… pela primeira vez na sua carreira!

Quantos pilotos oficiais se teriam dado ao trabalho de trocar um motor, fazer os últimos 120 km de noite no meio do deserto e chegar ao “bivouac” às 20.30h e sabendo que a vitória já estava fora de hipótese???!!!

Este foi o último acto heróico de Paulo Gonçalves na sua carreira… Mas o último acto heróico da sua VIDA foi ter arrancado para a 7.ª etapa do Dakar com a mesma vontade de sempre… A VONTADE DE VENCER!

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