Dakar 2020: Restrições para as mulheres causam polémica
Apesar de o Rally Dakar ainda não ter chegado à Arábia Saudita a polémica já começou. A escolha do país causou grande agitação por causa da situação controversa do país, especialmente, no que diz respeito aos direitos das mulheres. O “Guia Prático da Arábia Saudita” emitido pela organização veio confirmar este problema.
O documento de dez páginas aborda vários aspectos referentes ao país que acolhe a prova, nomeadamente que só a partir de Outubro de 2019 é que as portas do país foram abertas a turistas de todo o mundo.
Entre outras questões, é explicado que as chamadas whatsapp estão bloqueadas, bem como alguns sites (para conteúdo explícito). Em termos de logística, assinala ainda que também se deverá ter em conta que o transporte público não é muito confiável.
Só estas pequenas coisas já são suficientes para gerar alguma controvérsia. No entanto, é o quarto ponto do guia, intitulado “vida local”, que levanta mais problemas. Embora o documento tenha sido escrito de forma a realçar a crescente abertura do país nos últimos anos restrições relativas ao álcool, drogas e carne de porco mantêm-se. Dito isto, tanto a importação quanto o consumo de álcool e carne suína são estritamente proibidos e podem ser objeto de processos judiciais. O consumo de drogas também é severamente punido.
Porém, aquele que é, sem dúvida, o ponto mais conflituoso de todos, é o vestuário. É aqui que começa o óbvio machismo do país saudita: as mulheres devem ter os ombros e joelhos cobertos em público. Como de costume, esta restrição provocou uma onda de críticas à organização por ter levado a prova a um país onde a discriminação é tão evidente.
Para além disso, as manifestações de afeto em público são proibidas e é ainda apontado que as roupas das mulheres não devem ser demasiado justas. Apesar de já não ser obrigatório para as mulheres estrangeiras utilizar o vestuário local, é recomendado o uso de um véu em público “para evitar ofender”.
O trabalho fica também mais complicado para os jornalistas acreditados, que devem pedir autorização a uma mulher para fotografá-la ou gravá-la em grande plano.
Ora, com a crescente participação e presença da figura feminina no desporto motorizado é natural que regras como estas causem discórdia. Para além de grandes nomes como o de Laia Sanz, pilotos como Mirjam Pol, Sara García e Fernanda Kanno também marcarão presença no Dakar. No entanto, nos dias de hoje, a presença feminina estende-se ainda às mulheres que fazem parte das equipas, jornalistas e espectadores, que também verão as suas liberdades restringidas.
Foto: Rally Zone
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