As incríveis aventuras vividas por Paulo Gonçalves e Pedro Bianchi Prata no Dakar

By on 24 Janeiro, 2020

Pedro Bianchi Prata conheceu Paulo Gonçalves no início dos anos 90. Foram rivais durante vários anos para, mais tarde, se tornarem companheiros de equipa. Criaram uma amizade de tal forma forte que Bianchi diz que o “Paulo sabia que podia contar comigo e que eu só não ajudava se não fosse possível”.

“O Paulo era um exemplo de vida para todas as pessoas que às vezes têm tudo na mão e não dão valor. Todas as oportunidades que o Paulo teve da minha parte, aproveitou-as sempre de ‘mão cheia’ e com vontade de fazer mais e melhor com aquilo que tinha. É um exemplo para todos”.

Pedimos a Bianchi Prata para nos contar algumas histórias vividas por ele e pelo “Speedy” e aqui ficam elas…

“Uma das histórias mais giras que tenho com o Paulo foi no Dakar de 2006, ano de estreia dele na prova. Eu estava a dar assistência ao Hélder Rodrigues – que estava na minha equipa nesse ano – e na segunda etapa em Marrocos, o meu telemóvel toca por volta das 08.30h quando eu estava no carro. Era o Paulo a chorar desesperado a dizer que tinha tido uma grande queda e que tinha partido os parafusos que seguravam o guiador. Ou seja, o guiador estava pendurado apenas pelos cabos”.

“Perguntei onde ele estava, ele deu-me os pontos GPS e em dez minutos cheguei ao pé dele. Quando lá cheguei, o Paulo tinha a moto toda destruída. Tinha os depósitos furados, tinha a escora furada, a moto toda partida. Então, com as poucas coisas que eu tinha no carro, tentámos ‘compor’ a moto com braçadeiras plásticas, com cintas de prender as motos ao atrelado, prendemos o guiador ao triângulo da suspensão com arames… uma aventura complicada”.

“Quando terminámos, o ‘camião vassoura’ estava para arrancar para a especial – o Paulo entretanto tinha voltado ao início da etapa para nós o podermos ajudar. Com isto, o Paulo arrancou ao meio-dia para uma etapa que devia ter cerca de 400 km, atrás de todos os camiões, e com a moto naquele estado. E lá foi ele… chegou ao fim pela noite dentro, chegou tardíssimo. No final, contou-me que caiu inúmeras vezes porque o guiador se soltava do triângulo da suspensão e ele tinha de voltar a prender tudo com arames. Ninguém acreditava que ele conseguisse chegar ao fim da etapa mas conseguiu”.

Entre as 1001 histórias que Bianchi Prata tem com Paulo Gonçalves, tem outra em que “estávamos os dois a treinar em Marrocos e entramos num rio seco com umas trialeiras algo complicadas. Não conseguimos voltar para trás, ficámos sem gasolina nas motos, sem água e já estávamos preparados para dormir no meio das pedras. Tínhamos dado os pontos GPS para nos virem buscar mas era complicado os carros chegarem ao sítio onde estávamos”.

“De repente, às 23.30h ‘do nada’ aparece um miúdo com uma câmara de ar cheia de água. Bebemos aquela água a saber a borracha em segundos! Andámos mais de uma hora a pé até casa da família desse miúdo. Chegámos lá, eram umas tendas no meio do nada, e as cabras dormiam nas mesmas tendas em que eles viviam. Deram-nos uns cobertores e o pai do miúdo emprestou-me o telemóvel para eu ligar para a nossa assistência. Ficámos lá até às 03.00h da manhã, hora em que nos vieram buscar”.

Foi também com a equipa de Pedro Bianchi Prata que Paulo Gonçalves fez algumas provas do Mundial de Enduro com a BMW. “Logo na ronda de abertura do campeonato, nas especiais de Motocross e de Enduro, ele era o melhor piloto BMW à frente de todos os pilotos oficiais da marca como o Salminen e o Tarkkala. Mas na especial Extreme, o Paulo era muito mau na secção de pedras. Em todas as vezes que parava na assistência durante a prova, o Paulo chegava a chorar de raiva, de não conseguir fazer bem. Ele tinha de ser o melhor em tudo o que fazia e, se não conseguia, ele ficava revoltado com ele próprio.

Bianchi conclui: “O Paulo era um lutador, fosse qual fosse a moto, o que interessava era que desse para acelerar. Era um dos pilotos que eu tinha na minha equipa que menos trabalho dava. Ele sabia o que tinha de fazer para estar em forma, para estar competitivo. Mais do que ninguém, o que ele queria era ganhar.”

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