Dakar 2020: os novos road-books e novidades que tramam alguns…

By on 6 Janeiro, 2020

O principio é sempre o mesmo no Dakar, seja em África, na América do Sul ou no Médio Oriente.

A essência deste rali, pressupõe que os pilotos precisam de encontrar o caminho certo, para assegurar que passam em todos os waypoints (pontos obrigatórios de passagem e tomada de tempo) e que chegam ao local correcto de final de etapa.

Para o conseguir, os pilotos seguem um road-book, que na pratica é um lençol de papel, muito enroladinho num dispositivo mecânico, que vai mostrando, as principais curvas, cruzamentos, dificuldades que se deparam pelo caminho. Pelas distancias apresentadas entre cada figura do road-book, os pilotos vão podendo perceber se estão no caminho certo, ou se estão enganados. E é aqui que a experiencia começa a “facturar”… Os pilotos mais experientes a navegar e aqueles que melhor conhecem o terreno, conseguem interpretar melhor as indicações do road-book o que lhes permite rodar mais rápido e cometer menos erros. Navegar e rodar a fundo não é tarefa fácil, pois há que ter um olho bem focado nas indicações do road-book, e manter em simultâneo uma enorme concentração no terreno irregular e acidentado, repleto de armadilhas.

Todos os pilotos das equipas de fábrica são exímios neste exercício, mas há um elemento que é incontornável e que favorece fortemente os que partem para a especial um pouco mais atrasados, e que são as marcas dos rodados dos pilotos que passaram antes naquela pista. Esses rodados são uma ajuda adicional preciosíssima, uma espécie de um “guia privado” que marca na terra o caminho certo a seguir.

“Se ganho hoje a etapa, amanhã parto da frente e atraso-me na classificação.

Todos conhecemos esta máxima, e os pilotos melhor que ninguém, aceitam este facto como fazendo parte das regras da corrida. Se ganho a etapa parto para a pista em primeiro no dia seguinte o que me levará a obter um mau resultado.

Por isso a vitória no Dakar nem sempre passa por ganhar etapas, mas sim por saber gerir de forma inteligente estas situações de vantagem/desvantagem ao longo de toda a prova por forma a chegar ao ultimo dia em condições de conquistar ou manter a liderança.

Nesta nova fase do Dakar no médio oriente, a organização introduziu algumas alterações na questão da navegação, para evitar que as grandes equipas oficiais, apoiadas por estruturas grandes, com muitos meios financeiros e humanos, continuassem a ganhar vantagem adicional face às equipas mais “pobres”. Nesse sentido tomou 2 medidas muito importantes que estão já a ser aplicadas e que representam uma mudança interessante na forma como todos vão viver esta prova.

A primeira alteração prende-se com o facto de os road-books serem agora coloridos e anotados. Antes eram a preto e branco e cada piloto tratava de assinalar a cores, as figuras representativas de pontos importantes, como obstáculos perigosos, curva mais acentuadas, precipícios, trilhos cruzados, etc. Para conhecerem bem esses pontos, as equipas grandes dispunham dos Map Man, ou seja pessoas que pegavam no road-book da etapa seguinte e cumprindo as instruções do mesmo iam marcando o trilho certo em mapas virtuais e imagens de satélite. Assim conseguiam posteriormente aperceber-se da localização precisa dos waypoints e de quais os locais mais perigosos e importantes de assinalar, informações essas que eram passadas aos pilotos e marcadas no road-book. Desta forma alguns pilotos partiam para as etapas como muito mais informação, e dados mais eficazes e úteis do que outros.

Outra das medidas da organização para este ano é que, em algumas etapas, só entregam os road-books, na própria manhã da etapa, cerca de 30 minutos antes do arranque o que dificulta ainda mais o trabalho dos Map Man.

Felizmente que a organização tem um olho nestas questões que são importantes para manter ou devolver as características de aventura do Dakar e evitar que a prova se torne num exercício de capacidades profissionais de quem tiver mais dinheiro.

Será que esta primeira vitoria inesperada na segunda etapa, dum piloto praticamente desconhecido, já terá a ver com este novo equilíbrio de condições entre as equipas de fabrica e as privadas? Esperemos que sim…. pois quanto mais pilotos conseguirem ter andamentos fortes, mais emoção este rali viverá.

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