Rasmus Jorgensen, Husqvarna MXGP: “Quero utilizar o facto de ser jovem como uma vantagem”
A ascensão de Rasmus Jorgensen dentro do paddock do Grande Prémio tem sido bastante rápida. Começou por trabalhar com Thomas Kjer Olsen em EMX250 e agora lidera a Rockstar Energy Husqvarna Factory Racing em MX2. Tudo isto em apenas alguns anos.
Tornar-se gestor de uma equipa de fábrica é, sem dúvida, um grande feito, mas é certo que não é tarefa fácil.
“Todo o projeto já estava para chegar há muito tempo e foi um grande projeto desde o início. Tinha de ser feito à margem das corridas do ano passado. Provavelmente pareceu que tudo aconteceu muito rapidamente, pois tudo estava pronto logo após o Motocross das Nações. No entanto, tudo surgiu depois de muito trabalho. Tudo foi ficando pronto a seu tempo e, por isso, foi uma transição bastante suave para mim. Eu sabia que todos os mecânicos e os pilotos permaneceriam na mesma, mas tem sido extremamente interessante. Também foi um desafio em muitos aspectos e estaria a mentir se dissesse que não foi um desafio. É um grande papel a desempenhar numa equipa, mas tem sido muito, muito agradável. Bem, até o coronavírus aparecer, claro”, disse Jorgensen.
Quando soube que ia estar aos comandos de uma equipa como a Rockstar Energy Husqvarna, soube imediatamente que queria encarar o trabalho de forma diferente e tirar vantagem do facto de ser tão novo.
“Penso que, sendo eu provavelmente o mais novo chefe de equipa do paddock, queria trabalhar de uma forma diferente. É importante ter uma boa relação com os pilotos e conhecê-los bem, por isso é que queria tentar manter as coisas que fiz com os treinos dos últimos anos. Queria continuar a fazer longos passeios de bicicleta com os pilotos e segui-los de perto e também ir ao ginásio com eles. Queria jogar com o facto de ser tão jovem como uma pequena vantagem: compreendo esta geração. Funcionou muito bem. Houve muito mais tempo de escritório e trabalho no computador, mas ainda tive tempo para treinar com a malta e ir com eles para a pista. Isso foi uma grande prioridade para mim”, revelou Jorgensen, não poupando elogios a Jed Beaton.
“Quando o assinámos em 2018, penso que praticamente todas as equipas MX2 o queriam, porque ele tinha um pódio e era quinto no campeonato. Fizemos um grande esforço para o conseguir, por isso assinámos e depois a sua moto sofreu um acidente em Inglaterra, um dos piores que já vi, e ele ficou muito mal nas pernas. O ano passado teve um ano difícil, mas conseguiu dar a volta por cima e até agora estou muito orgulhoso do que ele fez. Há mais para vir, sem dúvida, e isto é apenas o começo. Ele fica tão bem na moto… sempre muito calmo, por isso acho que o puzzle estava a começar a encaixar-se nestas duas rondas iniciais”, disse o diretor da equipa MX2 da Rockstar Energy Husqvarna.
Quanto àquilo que poderá acontecer neste ano, Rasmus Jorgensen matém-se positivo mas sem sonhar demasiado alto.
“Ninguém quer especular sobre o que vamos ter, mas suponho que só queremos ver um campeonato. Não importa se são 12 rondas, 15 ou 20 rondas. O que precisamos é de correr. Eu quero ir correr e é isso que todos nós queremos. Vamos tentar salvar o desporto, salvar as equipas e ir correr. Vamos tentar pôr todo este mundo a funcionar novamente. Não há muito que nós, como indivíduos, possamos fazer, por isso só temos de esperar um pouco mais. Claro que é frustrante para mim, mas, ao mesmo tempo, não temos qualquer influência sobre o que está a acontecer. Podemos tentar fazer o máximo de trabalho possível e prepararmos tudo tão bem quanto possível para quando voltarmos a correr. A única outra coisa a fazer além disso é esperar”, sublinhou Jorgensen, acrescentando ainda que o golpe na parte económica do desporto também não será fácil de lidar.
“Eu quero ver um campeonato. isso é óbvio. Penso que a melhor coisa a fazer é tentar ser realista. Toda a economia sofreu um grande golpe, que irá afetar o nosso desporto e qualquer desporto em que a paixão esteja envolvida. O nosso desporto é construído puramente sobre a paixão. Temos grandes patrocinadores, mas assim que são afetados por isso, a primeira coisa que cortam é no patrocínio. Temos de ter em consideração o facto de que, depois disto, haverá uma crise que poderá mesmo acontecer no próximo ano. Penso que a Infront tem de ser realista quanto ao que as equipas são capazes de fazer, em termos de viajar para o estrangeiro e de muitas outras coisas. Todos nós gostaríamos de fazer tudo, mas, no fim de contas, temos de ver até que ponto estamos a sair desta situação. Vamos tentar salvar um campeonato este ano, quer sejam oito ou quinze rondas, e depois penso que não devemos ir mais além do que o final de novembro, por causa das pessoas mudarem de equipa ou terem de se mudar para a classe acima. As pessoas também precisam de uma pausa. Este desporto é tão duro, que os pilotos precisam de uma pausa para recuperarem antes de recomeçarem. É duro”, disse Rasmus Jorgensen.
Com Thomas de saída do MX2 e Kay de Wolf prestes a ascender à classe, é preciso perceber quem será o piloto ideal para se juntar a Jed Beaton em 2021. Jorgensen parece já ter uma ideia mas, naturalmente, terá de fazer mais algumas corridas para tornar tudo mais claro.
“Se tivéssemos tido uma época normal, teríamos podido ver o Kay a desenvolver-se. Falámos apenas dos dois pilotos MX2, mas o Kay merece definitivamente uma referência depois da sua performance em Valkenswaard. Não parecia o melhor no papel, mas ele dominou completamente aquela segunda corrida antes de cometer um enorme erro na última volta. Ele precisa de ir lá fora e ganhar experiência numa corrida de 250F. É uma situação muito, muito complicada. Voltando ao ponto financeiro, haverá mesmo recursos para contratar um piloto para assumir o nível em que o Thomas se encontra? É muito difícil dizer o que vai acontecer neste momento, mas vamos apenas manter o optimismo. Vejo que o nosso futuro é muito brilhante com o Kay na equipa, e com o Jed a ter mais um ano. Este vai ser ainda um longo ano e se conseguirmos fazer dez corridas, saberemos muito mais”, explicou, dizendo ainda que, nos tempos que se avizinham, será muito difícil lidar com questões relativas aos contratos dos pilotos.
“Penso que muitos pilotos estão sem contratos e esta é uma má situação para muitos, mesmo para um tipo como o Thomas que precisa de se mudar para a classe 450F. É muito difícil. Ninguém sabe! Acho que nenhum fabricante pode assinar com um piloto neste momento. Só temos de esperar para ver. É o que é. Todos temos de dar e tirar um pouco de nós para sairmos disto vivos, depois podemos começar a construir tudo de novo. Penso que esse tem de ser o objectivo principal”.
Depois da forma como correram as duas primeiras rondas da temporada de 2020, Rasmus Jorgensen revela que não poderia estar mais satisfeito com os seus pilotos.
“Fiquei extremamente feliz com a forma como correram as duas primeiras rondas. Estive muito perto do Jed no ano passado e ninguém imagina como o ano foi difícil para ele, tanto mentalmente como fisicamente. Fazer parte do processo de dar a volta a isso, sair bem e tão feliz por estar na equipa, foi óptimo. Se não fosse por alguns percalços, ele teria estado no pódio em ambas as rondas. É incrível o facto de ele ser terceiro no campeonato. O Thomas Kjer Olsen não teve os resultados que procurávamos, mas duas semanas antes de Inglaterra nem sequer tínhamos a certeza se ele ia conseguir correr. Ele está em sétimo lugar no campeonato e marcou pontos muito, muito importantes. Teve outra cirurgia na mão e esta pausa deu-lhe, provavelmente, uma segunda oportunidade. Ele precisava dessa operação, caso contrário teria sido um ano muito difícil. Ele estava a sofrer muito em Matterley e Valkenswaard”, explicou Jorgensen.
Os seus três pilotos já impressionaram neste Campeonato do Mundo de 2020 e irão, certamente, continuar a fazê-lo quando for possível regressar à competição.
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Foto: Rasmus Jorgensen Instagram
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