Crónica: Yamaha, surpresa ou desilusão no Dakar?

By on 11 Janeiro, 2016

Para o Dakar de 2016, a Yamaha apostou em Hélder Rodrigues, Alessandro Botturi e Frans Verhoeven para estarem aos comandos das WR450 F oficiais – Xavier De Soultrait integrou a Yamaha Júnior. Ano após ano a equipa tenta rivalizar com a KTM e, mais recentemente, com a Honda, pelos lugares cimeiros na mítica maratona do todo-o-terreno mundial. Mas os esforços não têm dado os frutos pretendidos. É preciso recuarmos a 1998 para termos uma Yamaha no primeiro lugar da prova, na época, uma YZE850T através de, imagine-se… Stéphane Peterhansel. Nas últimas edições, os melhores resultados foram conseguidos por Hélder Rodrigues – dois terceiros lugares em 2011 e 2012. E a equipa decidiu contar com os seus serviços novamente indo buscá-lo à rival Honda, na qual nunca conseguiu evidenciar o seu talento como antes, mesmo tendo uma estrutura de fábrica ao seu dispor.

O português voltou a dar o ‘sim’ a um casamento que já tinha tido vários capítulos de felicidade, com uma ‘pequena’ diferença: nesta nova união passou a ter o apoio de fábrica a 100%, ao contrário da época em que levou uma moto construída em Portugal aos pódio no Dakar. Até à mudança para a Honda, em 2012, o piloto luso havia participado em todas as edições da prova sempre ao volante de uma Yamaha e com resultados sempre no top 10, tendo, por exemplo, terminado a sua primeira aventura, em 2006, em nono lugar e como melhor rookie. Também com a Yamaha venceu cinco etapas no Dakar e foi campeão do mundo em 2011.

Mas neste regresso Hélder Rodrigues teve uma dupla responsabilidade. A par de alinhar no Dakar, foi o escolhido para liderar o projeto de desenvolvimento da nova WR450 F. A moto venceu o Rali de Merzouga pelas mãos de Alessandro Botturi, mas o seu verdadeiro potencial só agora, no Dakar, pode ser analisado. Na edição deste ano, até à chegada ao dia de descanso, Rodrigues conduzia a única Yamaha presente no top 10, sendo sétimo, a 24m24s do primeiro lugar. Já Botturi era 13º, a 39m37s. O aguadeiro da equipa, Verhoeven, surgia no 26º lugar, a 1h14m24s do líder Paulo Gonçalves.

O português está a fazer o que lhe compete, liderando uma equipa em que é claramente o piloto mais cotado, com nove participações e dois terceiros lugares, tendo terminando por seis vezes no top seis, em nove presenças. Botturi fez quatro Dakar até aqui, com três abandonos. Apenas na estreia terminou, sendo oitavo. Mais experiente – e com mais presenças que Rodrigues, 10 – Verhoeven tem como melhor resultado um oitavo lugar em 2009, mas hoje, aos 49 anos, é um veterano na prova, e já não tem a velocidade e disponibilidade física para ser o ponta de lança da equipa, papel que cabe, e bem, ao português.

Yamaha Racing (8)

A Yamaha será por isso uma surpresa ou uma desilusão no Dakar 2016? Bom, Verhoeven é uma ‘carta’ fora do baralho. Piloto experiente, mas já sem idade para voos mais altos.

Botturi, apesar de ter um currículo de respeito, com vários campeonatos italianos ganhos e cinco anos a figurar no campeonato do mundo, distribuído pela categorias E2 e E3, não é, de todo, um fora de série.

Já Hélder Rodrigues, que dispensa mais apresentações, teve um ano de mudança em que, apesar de não ser uma total novidade, teve de se adaptar a novas rotinas, novos técnicos e mecânicos e… desenvolver uma moto nova. Este trio tem enfrentado equipas que têm tido um investimento muito maior no Dakar, com um trabalho que já vem de trás.

A KTM vence a prova desde 2001, tendo uma equipa mais que estruturada e uma moto unanimemente considerada como a mais fiável do plantel. Apesar de sem os nomes grandes de outrora, Marc Coma e Cyril Despres, conta com pilotos ganhadores em outras modalidades, como são os casos de Toby Price ou Antoine Meo, e que têm agora a oportunidade de brilhar.

Do lado da Honda, apesar de só ter regressado em 2013 ao ativo no Dakar, tem já um projeto que está já no seu quarto ano e conta com, talvez, os dois melhores pilotos do plantel na atualidade, Joan Barreda Bort e Paulo Gonçalves, embora o espanhol já não esteja na prova. Os pilotos estão na casa nipónica desde o início desta aventura e têm acompanhado todo um desenvolvimento em que o investimento monetário da casa mãe não parece ser problema.

A par disso, a primeira semana do Dakar foi muito mais ao sprint, sem dunas ou etapas em que a navegação fosse preponderante, algo que contribuiu para que jovens promessas vindas do enduro e estreantes na prova, consigam, desde logo, dar o ar de sua graça, mostrando a rapidez que já apresentavam em outras lides. Há também outro detalhe. Das marcas oficiais, a Yamaha é a única que equipa as suas motos com pneus Metzeler, não tão talhados para os troços húmidos que os concorrentes enfrentaram na primeira semana. Já as rivais Honda e KTM ‘calçam’ Michelin, que estão um passo à frente nesse capítulo. Perante tudo isto, a Yamaha está assim a cumprir o seu papel, realizando uma boa prova à luz do contexto em que se ‘jogam’ as vitórias no Dakar 2016.

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